sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Calçada

O menino sentado na calçada,
Olhando pra frente,
Olhando pra cima.
O menino vai até a esquina.

Volta pra calçada, menino.
Chega pra sentir frio.
Chega pra sentir medo.
Chega, vem ligeiro.

Olha, lá vem a fome.
Espera mais um pouco, menino.
Espera que já clareia pra enganar a fome.

Não levanta ainda, menino, deita.
Deita, dorme e espera...

Espera pra morrer de fome.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

de onde viemos

São coisas que eu também não entendo.

Por que viemos,

Por que vamos.

Mas eu acho que sei por que vamos:

É por que não podemos ficar, não aguentaríamos.

Resta a filosofia do porque viemos e então pra onde vamos.

Resta um tanto de esperança em cada canto dos cantos que existem.

Restam esperanças nas crenças dos crentes, nas crenças dos descrentes,

No ceticismo dos céticos.

Restam esperanças nos furtos dos ladrões,

Diversas esperanças na pobreza dos mendigos,

Nos enganados,

Nos famintos.

Restam esperanças nos guerreiros,

Nos educadores,

Nos aprendizes,

Nos pais,

Nos que querem esperar.

Resta saber de onde viemos e se voltaremos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Trapaça

Festejemos na festa dos desesperados.
Vamos contribuir para que seja banido todo o olho magro.
Cantemos a locução da imaturidade.
Joguemos o baralho dobrado.
Ascendam a chama da burrice em efeito dominó.
E calemos os seguros.
Acabemos de vez com a inteligência – que tanto nos faz errar.
Enganemos os que pensam.
Brinquemos de amar, de ser feliz.
Brinquemos de ter juízo.
Brinquemos de tudo que brincávamos.
Brinquemos desse futuro.
Ensinemos o mundo a brincar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O que vou ser quando crescer

Um dia eu vou estar correndo novamente como fazia quando era uma criança,

Vou até cantar as canções inocentes que cantava antes.

Quero cobrir meu passado para fazê-lo novamente como se fosse a primeira vez.

E quando eu crescer vou querer ser rei, como eu queria ser quando eu era criança.

Quando eu crescer vou querer ser criança.

Vou querer viajar até o outro bairro pra brincar com o Rubinho e a Rafaela

E quando me abusar, vou querer voltar pra casa pra brincar com a Keite e o Orlando.

E quando minha mãe me chamar, vou tomar banho pra dormir.

Quando eu voltar a ser criança vou querer estudar novamente com a Tati e o Zé Carlos.

Vou querer comer pastel no recreio e depois brincar de boto.

Vou fingir que não sei andar de bicicleta, só pro meu irmão me ensinar de novo.

A bicicleta terá rodinhas.

Vou ter uma bola nova – que é tão legal.

Vou pular amarelinha com a Rafinha, o Paulinho, a Ná e o Kevinho.

Vou tocar a campainha e correr da Birucha.

Quando eu crescer vou querer ser criança.

E quem sabe um dia estarei escrevendo isso aqui outra vez.